A pergunta que nunca deve ser feita
Pais & Filhos

A pergunta que nunca deve ser feita

Larissa Larissa da Costa
19 de maio de 2017

Existe uma pergunta de cunho tão íntimo, capaz de causar tantos conflitos internos que deveria ser tabu e jamais ser feita a alguém, seja qual for o nível de amizade ou o grau de parentesco. É a pergunta relacionada a filhos, se uma pessoa quer ou quando vai ter filho. Recém casados e mulheres beirando os 40 anos são os alvos principais de tal pergunta indiscreta, como se fosse obrigação de todo o casal e da mulher procriar.

Imagino que, muitos casais, como eu, celebram a cerimonia de casamento com o objetivo de festejar a união, uma oportunidade de reunir amigos e parentes para comemorar um momento feliz, e não exatamente, em primeira linha, pensando em constituir imediatamente uma família. A pergunta insistente, constrangedora e altamente irritante é um martírio para os recém casados, pois, envolvida nela estão questões muito íntimas, que não interessam a ninguém a não ser ao casal. Há inúmeras possibilidades que justifique a ausência de filhos em um relacionamento e, muitas delas podem ser motivo de conflito e frustração, cito algumas: pode ser que um dos cônjuges não possa ter filhos, pode ser que um dos dois não queira ter filhos, ou que ambos não queiram ter filhos, pode ser que eles estejam tentando, e pode ser que a mulher já tenha conseguido engravidar a gestação não tenha vingado. Todas as hipóteses, exceto a da livre escolha de não procriar, geram no casal uma imensa ansiedade, frustração e até mesmo tristeza. E isso não deveria, de modo algum, ser tema para se justificar em público.

Mulheres beirando os quarenta anos também são alvo fácil desse famigerado questionamento, pois tem o tal do „relógio biológico“, que parece ser assunto de domínio público e todo mundo ter o direito de saber como ele anda.

Não só as mulheres sofrem com tal pressão da sociedade, como também os homens, pois há muitos homens solteiros que gostariam imensamente de tornarem-se pais e exerceriam seu papel maravilhosamente.

Os motivos, pelos quais o desejo da maternidade ou paternidade não se realizam, são igualmente incontáveis, e geram, da mesma forma, muita dor e conflito interno. Temos que começar a desvincular essa associação de que alguém só é plenamente feliz se tem filhos. É uma imagem ultrapassada de felicidade doméstica. Hoje em dia temos muito mais possibilidades de aproveitar nossa liberdade sem filhos que há muitos anos atrás. Um casal pode viver muito bem viajando, curtindo a vida noturna, gastronômica e cultural de sua cidade, país, mundo afora ou simplesmente curtirem-se a si e sua liberdade. Mulheres podem se realizar profissionalmente, fazer e seguir uma carreira, aproveitar sua liberdade de ir e vir, namorar sem ter que dar satisfação a ninguém assim como os homens solteiros.

Essa pergunta altamente imprópria e indiscreta deveria ser tabu absoluto. Esse assunto só deveria ser abordado se a pessoa que sofre com a falta ou dificuldade em realizar o desejo da maternidade ou paternidade quiser desabafar. Somente então, cabe ao ouvinte dar plena atenção e, se for o caso, tentar ajudar.

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Larissa da Costa
Larissa da Costa
Autor
Vim para a Alemanha em 2002 aventurar-me em terras desconhecidas e a maior delas tornou-se a maternidade, quando, em 2010 virei mãe de um menino e em 2013 de uma menina. Mantenho um blog próprio chamado brasanha.de aonde narro minhas experiências aqui na Alemanha.

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